História - O melhor do bairro de Centro, Ferraz de Vasconcelos, SP

RELATO HISTÓRICO


A ligação por terra entre o Rio de Janeiro e São Paulo, passava por Mogi das Cruzes. Para levar os alimentos, lenhas e carvão, produzidos na região, utilizavam-se de tropas de animais de cargas, geralmente mulas, que eram conduzidas pelos tropeiros. Eles faziam um caminho procurando as planícies e fontes de água para eles e principalmente para os animais. De Mogi das Cruzes para São Paulo, este caminho passava pelo bairro do Lajeado, em Guaianases, onde se encontra a Fábrica de Brinquedos Bandeirantes. Depois de um extenso trecho de planície, atravessava-se um córrego e começava um morro, o que significava dificuldade para a tropa. Provavelmente este foi o motivo que levou os tropeiros a fazerem uma parada para descansar na beira deste córrego, que foi sendo represado e passou a ser conhecido como Tanquinho.

É bem provável que por volta de 1810, fixaram-se por ali as famílias Leite e Bueno, fundando o primeiro povoado da futura cidade, provavelmente pela abundância de água, caça e fertilidade das terras e dos pastos. Conforme pesquisas da equipe que organizou o livro "História de Ferraz de Vasconcelos", Alexandre Rodrigues Leite nasceu no Tanquinho em 1835. Estas terras pertenciam às Missões das Carmelitas de Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhora de Lourdes.

Com o crescimento do povoado, os moradores construíram em 1880 uma pequena igreja (capela) em homenagem a Nosso Senhor do Bom Jesus, aonde padres vindos da Penha, duas a três vezes ao ano, rezavam missas e ministravam sacramentos. Em uma dessas ocasiões faziam-se procissão e quermesse, que consistiam na única festividade do lugar. Pelo Tanquinho passavam as comitivas vindas da capital do país, Rio de Janeiro, e há grandes possibilidades de que D. Pedro I tenha dormido em uma casa no Tanquinho na noite do dia 23 para o dia 24 de Agosto de 1822, em sua viagem para a cidade de São Paulo, onde no dia 07 de Setembro declararia a Independência.

Devido à falta de estradas e sua posição geográfica, o povoado do Tanquinho não tinha possibilidade de um crescimento rápido, fruto de famílias que vinham de outras terras, mas continuava sendo ponto importante de referência para os tropeiros e viajantes. Em 1869, a Companhia São Paulo e Rio de Janeiro, começava a fazer uma estrada de ferro que iria ligar São Paulo a Mogi das Cruzes, passando ao lado do povoamento do Tanquinho. A estrada de ferro foi inaugurada em 1875, mas como os trens só paravam em Mogi das Cruzes, o povoamento não se beneficiou da possibilidade de crescimento e progresso que a ferrovia representava. Provavelmente perdeu sua importância, pois os tropeiros que movimentavam o local foram substituidos pelos trens, dificultando alguma possibilidade de crescimento do comércio.

 

trem da época

Em 1890, com a finalidade de usar as ferrovias como instrumento de crescimento e integração nacional, o governo republicano estatiza a Companhia São Paulo e Rio de Janeiro e cria a Estrada de Ferro Central do Brasil. em 1891 foram inauguradas as estações de Poá e Suzano.

Com o fim da escravatura e o início da industrialização, o país incentiva a imigração, principalmente européia. O imigrante italiano Lourenço Paganucci, que já fazia tijolos no bairro do Parí, compra em 1891 uma área de terra em um lugar conhecido como "Meinho" (Atuais bairros de Vila Maria Rosa, Jardim Temporim, Norro Recanto e imediações). Muda-se para o local com sua esposa e iniciam a produção de tijolos, vendidos na sua grande maioria para a cidade de São Paulo. Sem outro meio de transporte, os tijolos eram levados até Poá em carros de boi, e dali, seguiam de trem. Período importante para sua família, pois em 26 de Abril de 1894 ocorre o nascimento de sua filha Gersumina na casa da família no Meinho.

Em 1895, o italiano Narciso Lucarini chega ao Brasil, e por indicação de Lourenço Paganucci, vem morar também no Meinho.

Talves, devido a dificuldade de se transportar os tijolos e acresdente necessidade de comida para alimentar os moradores da cidade de São Paulo, Lourenço Paganucci abandona a olaria de tijolos e começa a se dedicar ao cultivo de frutas, principalmente peras, ameixas e uvas. Tendo a intenção de produzir vinho em escala comercial, Lourenço Paganucci comprou em São Paulo, dois grandes tonéis e os trouxe de barco até Poá, pelo rio Tietê. de lá para sua casa e esses tonéis foram transportados em carros de boi.

Os conflitos da primeira guerra mundial geraram um aumento da imigração de europeus, e em 1914 a família Temporim chega ao Brasil. Depois de algum tempo, estão morando no Meinho. Em 1917, chega a família Magrine. Derrubam a mata para cultivarem a terra, principalmente uvas.

A solidariedade era fundamental entre os imigrantes, e certamente a presença dos Paganucci e Lucarini no Meinho, influenciaram os Temporim e os Magrines a se fixarem por aqui. Estas famílias foram grandes produtoras de frutas, principalmente de uvas, com a qual produziam vinho de ótima qualidade.

É fundamental registrar que bem antes do cultivo da uva tipo Itália, as terras onde seria a cidade de Ferraz de Vasconcelos, já era uma importante produtora de uvas, provavelmente a primeira do Alto Tietê e acreditamos que produziam também outros tipos de uvas (Rubi, Patrícia, Alphonse Lavallée e Dedo de Dama). Outra atividade econômica era a derrubada de mata para obtenção de lenha e carvão, que abastecia os paulistanos. Sem uma parada de trens, sem eletricidade, o povoameno crescia basicamente em função da sua reprodução natural, e não tinha atrativos imobiliários, embora os relatos apontam que esta região era de uma beleza rara. Há muito a ser pesquisado sobre as duas primeiras décadas do século passado. Esta narrativa histórica orientou-se em informações de memórias das famílias, o que inevitavelmente gera uma visão parcial.

 

O OUTRO LADO CAMBIRÍ

Os escritos que tratam da história ferrazense não citam sobre o povoamento do Cambirí. O imigrante português, Manoel Sebastião trabalhava na construção da ferrovia e passou a morar em Guaianases, onde conheceu e casou-se com Antonia Leite, filha de Antonio Leite, proprietário de 40 alqueires de terra situado onde atualmente está a chácara do Ibrahim, na divisa com a Vila Yolanda. Antonio Sebastião vivia da extração de madeira que vendia para a cidade de São Paulo. Descontente com o trabalho dos filhos deu para seu genro o direito de explorar os recursos do local. Manuel Sebastião veio morar no Cambirí. Lá nasceu seu filho Messias Sebastião no dia 20 de Agosto de 1900. Em 1906, ele comprou 60 alqueires de terra de uma tia de sua esposa e passou a morar em frente a atual Escola Estadual Vila São Sebastião, onde atualmente mora seu neto, Cota. Ele teve nove filhos. Seu neto conhecido como Cota, mora na casa que pertenceu a seu avô. Por estar distante da estação, o Cambirí ficou protegido da especulação imobiliária e conservou o clima rural. Atualmente, esta qualificado como Área de Proteção de Mananciais, que deve ser preservada.

 

URBANIZAÇÃO: ROMANÓPOLIS

 

 

Havia do outro lado da estrada de ferro, uma grande fazenda de criação de gado leiteiro e suínos, conhecida como Paredão, de propriedade da Foschini & Cia. Esta empresa tinha como sócios o veterinário Pedro Foshini, Herman Telles Ribeiro e o prof. Arturo Guarnieri. Fazenda essa de criação que seus animais competiam em exposições nacionais, sempre ganhando vários prêmios, entre eles o título de Campeão Absoluto, obtido por um touro da raça holandesa.

Compraram em 1921 mais 229 hectares de terra que pertenciam a Narcizo Lucarini, e criaram a S.A. Fazenda Casa Branca, que margeava uns dois quilômetros da estrada de ferro e se estendia até os limites do rio Guaió. A proximidade da estrada de ferro valorizava as terras que poderiam ser loteadas. Diante de uma crise na atividade agropecuária referente a guerra e o declínio das vendas, os empresários da S.A. Fazenda Casa Branca decidiram mudar de atividade e projetam um loteamento com o nome de Romanópolis para uma parte de suas terras.

Porém, o sucesso do loteamento dependia de uma estação de trens e os empresários se esforçaram e investiram para a conquista da estação, gerando o ciclo histórico de urbanização do lugar, que na época pertencia a Mogi das Cruzes.

É possível imaginar a enorme dificuldade desta luta, pois todo proprietário de terras ás margens da estrada de ferro, pedia uma estação de trens com a intenção de valorizar seu imóvel. O trem era o único meio de transporte rápido que se tinha. além de faltarem estradas, os carros eram muito raros e só ricos podiam comprá-los.

Para justificar os argumentos em favor da nova estação, em 1923 eles começam a comprar vinte passagens diariamente (provavelmente na estação de Poá), mostrando o aumento de passageiros. em 1924, instalam um gerador de eletricidade e à noite, quando estava no horário do trem passar, ascendiam cerca de quinze luzes tentando impressionar os passageiros e trabalhadores da ferrovia, para o crescimento do lugar. Passado o trem, as luzes eram desligadas. Ainda sem a estação, o loteamento Romanópoli começou a ser implantado, com abertura de ruas, vendas de alguns lotes e construção de poucas casas. O comerciante José Andere, que costumava vir ao Tanquinho comprar produtos para revendê-los em São Paulo, comprou o primeiro lote.

Sem a resposta esperada, em Outubro de 1925, a S.A. Fazenda Casa Branca inicia a construção da estação de trens com recurso próprio, utilizando um projeto fornecido pela ferrovia Central do Brasil, que também indicava o local e com planta assinada pelo engenheiro Dr. Sebastião Gualberto. Apos o término das obras da estação, começou-se a discussão para definir o nome que deveria ser dado à mesma. A princípio deveria ser Romanópolis, mas decidiram colocar o nome de Ferraz de Vasconcelos, em homenagem póstuma ao engenheiro da companhia ferroviária Central do Brasil, que morreu na região vítima de um estilhaço na revolução de 1924.

 

No meio da área deserta, a primitiva estação, em 1928. Foto do livro de Max Vasconcellos, A Central do Brasil, 1928

José Ferraz de Vasconcelos era engenheiro e chefe do 2°. Distrito de Tráfego da Estrada de Ferro Central do Brasil. Nascido em Santa Luzia do Carangola. Filho de uma numerosa família transferiu­se para o Rio de Janeiro em 1911, dedicando toda a sua vida à Estrada de Ferro Central do Brasil. José Ferraz de Vasconcelos era conhecido pela sua competência e humildade, fazendo amizade com todos, desde os engenheiros, até os funcionários com cargos mais subalternos. Em 1924, foi destacado como superintendente da circulação da tropa durante a revolução em São Paulo. Quando terminou a revolução, debilitado e doente, não resistiu e faleceu na Capital paulista, aos 44 anos de idade.

A exemplo do que aconteceu em diversos lugares, o nome da estação passou a ser o nome da cidade. Godofredo Osório Novaes foi indicado para ser o primeiro chefe da estação, que seria inaugurada no dia 29 de Julho de 1926, com a presença de autoridades, comerciantes e moradores do local.

 

Sr. José Ferraz de Vasconcelos

Porém o funcionamento da estação não significou um crescimento rápido do local, que manteve por muito tempo seu aspecto provinciano, com baixo movimento de passageiros, em 1930 a Central do Brasil ameaçou fechar a estação. Novamente, moradores, comerciantes e empresários, conscientes da importência da estação, se cotizavam para comprar o número mínimo de passagens, e conseguiram mantê-la funcionando. Nesta fase, a principal força econômica e geradora de possibilidades de crescimento para o local, continuava sendo a S.A. Fazenda Casa Branca, que em 1927 abre uma estrada de cinco quilômetros. Em 1929 instala um gerador de eletricidade e doa 5000 metros quadrados para a construção da primeira fábrica da cidade.

O aumento de população exige a criação em 1928 da primeira escola pública. Funcionava em um sobrado na atual Av. XV de Novembro, onde hoje se encontra o prédio da Caixa Econômica Federal. Na época doada pela imobiliária, foi construída uma fábrica de tintas que funcionava graças a gerador. Mais tarde, quando a localidade já era servida de eletricidade pela antiga Light, o prédio foi vendido para a futura Fábrica de Lixas Tatu.

A vinda da popularmente conhecida Fábrica de Lixas Tatu trouxe para a Vila Romanópolis mais famílias e progresso e que seu primeiro prédio fora construído na esquina entre as avenidas Brasil e Getúlio Vargas.

Diversos depoimentos, inclusive o do ex-prefeito José Fares indicava que até o início dos anos 30, a região era própria para caçar pequenos animais. Antes da estação de Poá e vinham caminhando até aqui. Ele e seu irmão Antonio Fares, Félix Mazzuca, e outros amigos costumavam vir até aqui caçar e tomar vinho produzido pelo Lourenço Paganucci. Deles, Félix Mazzuca foi o primeiro a comprar terras por aqui, no ano de 1924, no bairro do Menino. Foi em seu armazém, na atual Rua Santos Dumont, próximo ao viaduto, que em 1932, foi instalado o primeiro telefone.

A eletricidade, outro fator importante para o desenvolvimento de qualquer comunidade foi finalmente instalada em 1933, motivo comemorado com grande festa, e que vai marcar o início de um novo momento da história da cidade; O predomínio econômico e até político da Fábrica de Lixas, que vai durar até o início dos anos 70. Em 1935 vindos de Santa Catarina, a família Gothard Kaesemodel compra as instalações da fábrica de tintas e instalam a filial da Indústria e Comércio Gothard Kaesemodel Ltda, fabricante de lixas e colas que chegou a ser a maior do país em seu segmento, empregando cerca de 500 operários, e tendo importância fundamental na vida da cidade.

Neste ano também é inaugurado o primeiro Grupo Escolar, na atual Av. Dom Pedro II, onde funciona a Câmara Municipal. O prédio fora construído também pela S.A. Fazenda Casa Branca e fora alugado à prefeitura de Mogi das Cruzes.

Por volta de 1936, a saúde do Dr. Pedro Foschini, já não era tão boa e a S.A. Casa Branca vai ter um novo sócio, o famoso conde Rodolfo Crespi. A empresa muda de nome para "Sociedade Anônima Territorial e Agrícola Romanópolis" e tem como principal líder o engenheiro agrônomo Luciano Poletti, que vai dirigir um viveiro de produção de mudas frutíferas. De acordo com os relatos do Ex-prefeito José Fares, foi Luciano Poletti que modificou a planta original do loteamento, alargando as ruas e ampliando a área do loteamento. A ele também é atribuído o primeiro trabalho de arborização da cidade e da Praça Independência.

Conforme é possível imaginar, esta região fora desmatada para servir de pasto e produção de carvão e lenha, e no início do século não existiam árvores. Em depoimento a Sra. Wera Baxmann, esposa do primeiro prefeito da cidade, lembra que sua casa (próximo à caixa de água da Sabesp), era possível ver seu marido ir até a estação, no final dos anos 40, pois não havia árvores, nem casas. A vegetação era basicamente de capim, conhecido como Barba de Bode. A família Baxmann chegando na cidade em 1937, vindos de Santa Catarina, servem de exemplo da força que afábrica de lixas teve na formação da cidade. Ela como outras pessoas fieram para Ferraz de Vasconcelos, trabalhar na fábrica.

A religião predominante era católica. A antiga capelinha do Tanquinho não comportava o número de fiéis e em Julho de 1937, é iniciada a construção da Igreja Nossa Senhora Aparecida, no alto da rua Tiradentes. Com o crescimento do local, em Março de 1940, durante a era Vargas, o Interventor Federal no Estado, Adhemar de Barros, decreta elevação do bairro a categoria de Distrito Policial. O início da década de 40 é marcado pela 2ª Guerra, o que implicou dificuldades para todo país. Também é momento de grande crescimento da imigração interna que começa nos anos 30, quando a população pobre do campo começa a buscar os estados do sul, principalmente São Paulo.

Com as dificuldades de importação causadas pela guerra surge um novo surto de crscimento industrial baseado na substituição de importações, gerando novos empregos. Porém, a grande maioria dos que abandonavam as roças para trabalharem em São Paulo, eram de origem pobre, com pouca escolaridade sem qualificação profissional. Com baixos salários, só conseguiriam morar em lugares mais baratos. A existência da estação e a grande oferta e terras sem aproveitamento para agricultura, geraram o surgimento de loteamentos vendidos à prestação que serviram de atrativos para que milhares de famílias de migrantes chegassem a cidade.

Em 1946, um levantamento para justificar um pedido de elevaçao do Sudistrito para Distrito de Paz, mostra que a cidade já possui as seguintes indústrias: Indústria de Seda Brasileira Ltda, Fábrica de Lixas e Cola Tatú, Metalúrgica Barí Ltda, Oficina mecânica e Ferraria, Oficina de Costura e duas olarias, num total de 418 trabalhadores. Entre armazéns, bares, lojas, açougues, padarias, há 21casas comerciais e um posto de gasolina. Há ainda mais de 150 chácaras produzindo alimentos para serem vendidos. Uma análise das estatísticas da estação de trens revela a tendência que levaria a futura cidade a ser classificada como "Cidade Dormitório". Em 1946, já havia milhares de passageiros utilizando-se dos trens, principalmente para irem trabalhar em São Paulo. Em 1947, é constituída a mais importante e atuante associação de moradores da história da cidade. Motivados pelo desejo de amancipação do subdistrito, é criada a Sociedade Amigos de Ferraz de Vasconcelos (SAFV), com a seguinte diretoria; Gothard Kaesemodel Júnior, Presidente; Luciano Poletti, Vice-presidente; José Breves Bretas, 1º Secretário; Félix Mazzuca, 1º Tesoureiro e Júlio Ferreira Júlio, como 2º Tesoureiro. Para animar ainda mais os que lutavam pela emancipação, no dia 08 de Julho de 1947, o Decreto Lei 17.405, eleva a cidade a Distrito de Paz, criando o Cartório de Registro Civil de Ferraz de Vasconcelos. Com isso, as Certidões de Nascimento, Óbito, Casamento e outros, poderiam ser feitos aqui. Até então, os ferrazenses precisavam ir a Poá. O primeiro Oficial de Registro foi José Jordão Martin, que acumulava tarefas de subdelegado e subprefeito.

O primeiro registro do cartório foi a certidão de nascimento de Antonio Perino Generato dos Santos, no dia 10 de Setembro de 1947. Em Setembro de 1954, veio de Santos, para assumir o cargo de Oficial Maior do cartório, José Chacon Moriel, que em pouco tempo ficou conhecido como Zé do Cartório. O cartório funcionava na lateral do prédio da antiga imobiliária Romanópolis, onde hoje é a ponta da Praça dos Trabalhadores. Seu filho, José Carlos Fernandes Chacon, conhecido como Zé Biruta, seria eleito em 1992 e em 200, prefeito de Ferraz de Vasconcelos.

Desde os primeiros anos da década de 40, no distrito de Poá, crescia o movimento de emancipação poaense, liderado por Bruno Rossi, Prof. José Garcia Simões, Prof. José S. Rocha, Euclydes Greenfel, entre utros. Para eles, Ferraz de Vasconcelos, ficaria anexada a Poá. Provavelmente, este movimento deve ter aguçado o desejo dos ferrazenses de administrarem seu território, e em 1948 é formda a primeira comissão de emancipação formada por Afonso Carlos Fernandes, Prof. João Gurgel Mendes e o diretor do grupo escolar, Prof. Sother Batalha, porém tanto Ferraz de Vasconcelos como Poá, pertenciam a Mogi das Cruzes, e o vereador Pedro Paulo Paulino, representando o então distrito de Ferraz de Vasconcelos pede uma certidão sobre a arrecadação local, para comprovar a capacidade do lugar em se tornar município. Em 24 de Dezembro de 1948, a Lei Estadual nº 233, criou o município de Poá e Ferraz de Vasconcelos torna-se distrito de Poá.

Adiado o sonho da emancipação, os ferrazenses vão se contentando com o crescimento, agora mais acelerado, do lugar. Os moradores cobram a coleta de lixo e começam a edir a construção de mais escolas, sob alegação de que 700 alunos ficaram sem estudar por falta de vagas. Em Setembro é inaugurado o cinema, começa a campanha para a construção da Igreja Matriz, e o governador Adhemar de Barros, veio conhecer o trabalho que Luciano Polleti desenvolvia em seu viveiro de mudas, situado no Cambirí.

O ano de 1951 traz mais um benefício importante para a comunidade. No dia 04 de Abrli, é inaugurada a Agência de Correios, tendo como chefe a Sra. Hilda de Freitas Camilo. É importante lembrar que a população dependia muito dos correios, uma vez que as notícias de parentes e outros comunicados, só eram possíveis por cartas. Outro fator que ligava Ferraz de Vasconcelos a Poá era o cemitério. Ainda em 1951, Abílio Secundino Leite doa uma área para a construção de um cemitério. A Sociedade Amigos de Ferraz de Vasconcelos arrecada dinheiro e constrói a capela, como também no dia 15 de Novembro é inicada a construção da SAFV. E nesse período o prefeito era o Sr. Lourenço Marques. Em dezembro do mesmo ano o antão Pispo Auxiliar D. Paulo Rolim Loureiro vem inaugurar a Igreja Nossa Senhora da Paz, e celbra a primeira missa.

Desde 1948, a localidade vinha sendo servida por uma empresa de ônibus da "Empresa Auri-Verde", unindo Ferraz de Vasconcelos a São Paulo. O caminho era semelhante ao feito pelos tropeiros no século anterior; Passava pelo Lajeado, sepois seguia para Itaquera e Parque D. Pedro II. Porém, com a estação de trens de Guaianazes, o Lajeado foi perdendo importância e a urbanização cresceu em volta da estação e de toda a linha da rede ferroviária. Ainda em 1952, não existia uma estrada ligando o então distrito de Ferraz de Vasconcelos a Guaianazes. Em Novembro, uma comitiva de ferrazenses vai ao Palácio Campos Elísios (Parque D. Pedro), onde em audiência com o governador Lucas Nogueira Garcez, solicitam a abertura de oito quilômetros de estrada, ligando Ferraz de Vasconcelos a Guaianazes. Para facilitar o atendimento do pedido, a SAFV, conseguiu a doação das terras onde passará a estrada. Apenas em 1957, o DER manda abrir cerca de três quilômetro de estrada.

Em Dezembro de 1952, o prefeito José Lourenço Marques da Silva, responde a um requerimento de interesse dos ferrazenses, atestando que a arrecadação de impostos em Ferraz de Vasconcelos doi de Cr$ 615.500,00, correspondendo ao ano de 1951.

O ano de 1953 foi de intensa atividade para a SAFV, no seu papel de incentivar e organizar o processo de emancipação. No dia 08 de Março, reuniram-se 56 ferrazenses para elegerem a Comissão Pró-Emancipação. Foram eleitos; Afonso Carlos Fernandes, presidente; Arthur Hormínio da Costa, Vice-presidente; João Batista Gurgel Mendes, Secretários Geral; Júlio Ferreira Júlio, 1º Secretário; José Fares, 2º Secretário; Félix Mazzuca, 1º Tesoureiro e Halmuth H. H. Louis Baxmann como 2º Tesoureiro.

Naquela época, possuia uma chácara em Ferraz de Vasconcelos, o jurista Vicente Ráo, professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e que fora Ministro das Relações Exteriores do Governo Getúlio Vargas. Na primeira reunião da Comissão Pró-Emancipação, foi acertado que pediriam ajuda ao Dr. Vicente Ráo para entregarem o documento pedindo às autoridades estaduais a emancipação. A legislação exigia um número mínimo de moradores e renda, para a criação dos novos municípios, e assim, nesta reunião foi formada uma comissão responsável pela realização de um censo, para fazer a contagem da população e das construções existentes no então distrito de Ferraz de Vasconcelos. O território do distrito era menor que a atual área da cidade de Ferraz de Vasconcelos, e compreendia apenas 17km quadrados. Foi no governo do prefeito José Fares, que aumentou para 25km quadrados.

Para arrecadar dinheiro e ajudar com as despesas da emancipação, criou-se um selo que era vendido aos moradores. O sentimento de emancipação provavelmente tornou-se uma febre entre a população, porém muitos já saiam cedo para trabalhar em São Paulo. voltavam à noite e não tiveram participação efetiva, o que implicava em grandes esforços para a Comissão de Emancipação. Por outro lado, os governantes poaenses não queriam perder o seu distrito, criando algumas dificuldades burocráticas e de prestação de serviços. Isto transformava a SAFV em local de reivindicação da população. Fazendo o papel de uma subprefeitura, realizava serviços públicos, como calçamento de praça, rede de esgotos no centro, capela do cemitério. Na falta de um Posto de Saúde, pessoas ligadas a SAFV, conseguiram a doação de um terreno da Romanópolis e com ajuda da Campanha Pró-Movimento Monteiro Lobato, lançaram no dia 16 de Março, a pedra fundamental para a construção do Posto de Puericultura, atual CS II, na Rua Japão.

Também por esra época, o prefeito José Lourenço Marques, responde a um pedido da Comissão Pró-Emancipação, alegando que o distrito possui um grupo escolar, três escolas mistas e o Seminário Cristo Rei. O mês de Março foi significativo para a campanha municipalista. No dia 27, na sede sa SAFV, a Comissão Pró-Emancipação, apresentou o resultado dos levantamentos. O distrito tinha: 94 casas comerciais, 11 indústrias e 795 residências.

Para justificar ainda mais o pedido de emancipação, aprovou-se que iriam conseguir dados sobre o número dos contribuintes do Imposto de Renda, total arrecadado pelo imposto de vendas e consignações (ICMS) e do Imposto de Consumo, para os quatro anos anteriores. Também iriam levantar o número de passageiros dos ônibus e o número do Registro de Nascimentos dos últimos 03 anos.

Procurava-se que a comprovação dos números exigidos, não dependesse do IBGE, o que poderia demorar até o próximo censo ou estaria desatualizado. É preciso ter em mente que o distrito crescia rapidamente sesta época com a venda de terrenos, e que os dados dos último censo estavam defasados. Graças ao apoio do Dr. Vicente Ráo, o Secretário de Justiça, Dr. Loureiro Júnior elaborou um parecer jurídico sobre os números de moradores, rendas, etc., que dispensava a comprovação pelo IBGE. Este parecer doi fundamentado pela Comissão Pró-Emancipação.

Outra batalha teria que ser vencida na Assembléia Legislativa, onde o pedido de emancipação teria que ser votado. O deputado Pedro Fanganiello foi quem apresentou projeto de lei criando o Município de Ferraz de Vasconcelos. Evidentemente os políticos poaenses também procuraram seus deputados para votarem contra, e foi preciso diversas idas aos gabinetes conversas paralelas e até um pedido de ajuda, feito pelo Sr. Rolando Kaesemodel ao então deputado federal Ulisses Guimarães.

No dia 14 de Outubro, dezenas de ferrazenses lotam a Assembléia Legislativa para acompanhar a votação. Por volta de 17:40hs, começam as discussões sobre a criação do Município e a deputada Tereza Delta, lidera os discursos contra. Os ferrazenses continuam nos intervalos da sessão, tentar convencer os deputados, preocupados de que eles saiam e assim, não consigam número suficiente para a votação. Conseguem mais um êxito, e após as palavras do deputado Pedro Fanganiello, a proposta é aprovada por 34 votos contra 08. Depois da festa, o trabalho continuou, era preciso organizar um plebiscito (consulta popular), para saber se o povo ferrazense desejava emancipação. No dia 22 do mesmo mês, o plebiscito foi realizado com todos os votos apurados favoráveis a emancipação. Para comemorar, Luciano Poletti, trouxe uns barris de vinho. A Câmara Municipal de Poá cumpriu o seu dever de lutar contra uma perca de seu interesse, e entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal, alegando inconstitucionalidade na emancipação. Então no dia 29 de Dezembro, em sessão plena, o Supremo Tribunal Federal votou pela improcedência da ação poaense e finalmente em 30 de Dezembro, a lei 2.456 entra em vigor, elevando o distrito de Ferraz de Vasconcelos à categoria de município.

Pouco estudado e discutido, é o período de transição entre a aprovação da criação do município e a posse do primeiro prefeito, que só aconteceu em Janeiro de 1955. Basicamente foram 14 meses sem poder público efetivo. Por certo, a prefeitura de Poá não iria investir dinheiro em uma área que não mais lhe pertencia. Provavelmente a autoridade moral da Comissão Pró-Emancipação e os esforços da SAFV, foram responsáveis pela condução da cidade nesse período, que precisava ser mais analisado.

Em 03 de Outubro de 1954, aconteceu a primeira eleição para prefeito, vice-prefeito e vereadores. Nessa época, os votos de prefeito e vice-prefeito eram separados.

Foram eleitos; Helmuth Hermann Hans Louis Baxmann para prefeito, com 371 votos. Houve 967 votos válidos para o cargo de prefeito. José Antonio Fares, para vice-prefeito com 364 votos. Os primeiros vereadores foram: Brígida Molinari Gouvêa, Carlos de Carvalho, Daniel Riente, Diomar Novaes, Fernando Alves de Oliveira, Henry Kaesemodel, Hildebrando da Silveira, Ítalo Mazzuca, João Batista Camilo Neto, Mário Martinelli e Max Gerlach.

No dia 01 de Janeiro de 1955, tomam posse os primeiros governantes eleitos pela população de Ferraz de Vasconcelos, para terem a tarefa histórica de construir uma prefeitura, visto que até então não se tinha nada. O primeiro prédio onde funcionou a prefeitura foi na Av. Brasil, nº 1108, onde atualmente esta localizada a Imobiliária Eduardo Imóveis. Tinha-se apenas um balcão e algumas mesas, com expediente das 07:00 as 13:00hs. A Câmara funcionava na sede da SAFV. Da prefeitura de Poá, recebeu 01 livro Caixa, 01 livro de Registro de Óbitos, 01 livro de Dívida Ativa, cópias de algumas leis e Cr$ 82.390,9.